Ione é a caçula de sua família, tendo quatro irmãos mais velhos. Sempre estudou em escola pública e durante o Ensino Médio fez curso técnico em Secretariado, que lhe possibilitou fazer dois estágios e conseguir posteriormente seu primeiro emprego na empresa Wallace Revestimentos. Teve seu primeiro contato com o IMES ao ser contratada para trabalhar como secretária da Vera Lúcia Basso. Depois de dez meses passou para o RH, onde permanece trabalhando. No ano seguinte ao seu casamento, Ione começou sua graduação em Publicidade e Propaganda pelo IMES, atual USCS, pertencendo a 1ª turma de formandos de Publicidade e Propaganda; e depois fez pós graduação em Gestão de Pessoas. |
|
Pergunta:
Então Ione, eu queria que você começasse falando seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
Resposta:
Poxa, data de nascimento.
Pergunta:
Isso é só para controle interno, não vou colocar no GC, no gerador de caracteres a idade [risos].
Resposta:
Ione Alves Borges Smeets, 16 de dezembro de 1967.
Pergunta:
Esse Smeets... [corte na edição da entrevista] Bom Ione, eu queria que você começasse um pouquinho falando sobre sua família e suas lembranças de infância.
Resposta:
Família e lembrança de infância.
Pergunta:
Você é aqui de São Caetano mesmo? De onde a sua família é?
Resposta:
Eu sou de Mauá, nasci em Mauá e morei lá até os 28 anos. Nasci em Mauá, no Hospital Mauá e morei até os 28 anos lá, quando eu me casei. O que eu lembro assim de família é, eu...meus pais tiveram cinco filhos, e eu sou a mais nova dos cinco, sou a caçula. E aí minhas brincadeiras eram, se eu quisesse brincar, eu tinha que brincar com os meus irmãos, então eu tinha que fazer brincadeiras de menino, e aí eu jogava peão, rodava peão, sabia soltar pipa, andar de carrinho de rolimã, andar de bicicleta, jogar bola, então brincava de um monte de coisa de meninos, e a minha mãe não deixava eu ir na casa dos outros, então para alguém vim na casa, as mães também não deixavam, então a gente ficava brincando, e eu brincava com as coisas dos meus irmãos. Tinha que assistir aqueles bang-bang, eles dominavam a TV, e era assim, eu ficava sempre sobrando, se eu quisesse interagir, tinha que ser com eles. Até eu crescer um pouquinho mais e já ter algumas amiguinhas de escola, então aí a mãe já deixava fazer mais alguma coisa.
Pergunta:
Como era que você falou, essas brincadeiras com seus irmãos, você tinha que, afinal de contas, como você disse, eram eles que estavam ali. Você acabava gostando, no final das contas, você se enturmava bem com as brincadeiras de menino? Você sabe rodar um peão bem?
Resposta:
Olha, não sei se eu ainda sei, mas eu sabia [risos]. Sabia rodar peão, meu pai me ensinou e eu conseguia jogar assim [mostra como jogava com as mãos] e rodava bem o peão. Mas assim, brincava normal, se eu queria brincar de boneca, essas coisas, eu brincava sozinha, brincar de casinha eu brincava sozinha, e eu fazia as minhas histórias sozinha com a minha boneca, eu criava as minhas histórias, eu falava comigo mesma, então assim, eu era várias personagens, para brincar de casinha, por exemplo. Então eu fazia eu, o personagem da boneca era uma outra, então tinha vários nomes de personagem. Tipo daquele filme...ai como chama o filme...corta [risos]. Ah, não lembro o nome do filme, que ele era vários personagens. Era o... gente não vou lembrar o nome do homem...
Pergunta:
Era um filme? Porque eu lembro que tinha uma novela que o Ney Latorraca fazia vários atores, vários personagens...
Resposta:
Não, é do Eddie Murphy o filme, que ele faz vários personagens...como que era...não lembro nome.
Pergunta:
Mas é antigo?
Resposta:
Não, nem tanto...
Pergunta:
Deve ser mais recente.
Resposta:
Deve ter uns 10 anos, mais ou menos [risos].
Pergunta:
Eu sei que tem o Professor Aloprado, que ele fazia vários personagens.
Resposta:
Acho que era esse, que tem até um mesa que ele está sentando, ele é o avô, ele é a mãe. É, é esse filme.
Pergunta:
Exatamente.
Resposta:
Brincadeira mesmo mais assim, eu fazia vários personagens ao mesmo tempo.
Pergunta:
Fazia todas as bonecas, aí você ia lá no computador...
Resposta:
Todas.
Pergunta;
E na rua? Tinha muita brincadeira de rua?
Resposta:
Ah, também! Brincadeira de pega-pega, esconde-esconde, de correr na rua, tinha todas aquelas brincadeira, né? De passa-anel, brincar de roda, de rodas na escola também, cantar a música do Café Seleto.
Pergunta:
Os jingles então, tem até uma pegada de propagandas antigas.
Resposta:
Tem! A gente cantava a música do Café Seleto na escola, né? Fazia uma roda bem grande no pátio, todo mundo mundo cantava, a molecada toda.
Pergunta:
Você falou da televisão. Acho que a televisão é uma coisa bem presente na infância de todo mundo, né? Pelo menos...
Resposta:
Preto e branco.
Pergunta:
Você citou os faroestes, né? Do bang-bang que seus irmãos assistiam, citou o Café Seleto, tem mais alguma coisa que você lembra que você via na televisão na época, que marcou assim essa fase da sua vida?
Resposta:
Tem as propagandas, né? Que a gente lembrava, como que era, do Suflair, que eu gostava, do papel Primavera, que tinha os desenhinhos, as florzinhas, do rocambole da Pullman, tem vários...sempre gostei bastante de propaganda. Tanto que eu sou formada em Publicidade [5'].
Pergunta:
Poxa, que legal! Um curso legal. A gente vai chegar lá na hora da formação, da sua formação superior, mas vamos um pouquinho antes falar da escola, né? Você falou que na escola foi até o momento que você passou a ter contato, uma relação com outras amigas, com outras pessoas que não aquele núcleo familiar. Como que foi essa sua entrada na escola, ainda morando lá em Mauá? O que você lembra dessa época?
Resposta:
Eu comecei a estudar no SESI, acho que em 1975, e daí foi super gostoso. Eu queria muito ir para a escola, porque meus irmãos iam, e eu era mais nova, não ia. Eles não gostavam de ir para a escola, e eu não via a hora de chegar. Então, eu lembro ainda do primeiro dia de aula, a professora chamava Ivone, muito boazinha, e aí cheguei lá na aula, na escola, um monte de criança chorava lá, e aí eu pensava: ‘nossa, por que que eles estão chorando?' E eu super ansiosa para chegar logo, para ir para a classe. E foi muito gostoso, era uma professora boazinha, um amor assim, cuidava de todas as crianças, tratava muito bem todo nós, pelo nome, e eu pensava: ‘como é que ela sabe o meu nome?'. Ela falava, fez a chamada e daqui a pouco ela já sabia o nome de todos, e eu não entendia, como que ela já decorou o nome tão rápido? Ela estava lá com as nossas fotos, nossos nomes, e eu não entendia isso. E sempre incentivou bastante, os desenhos que a gente fazia no caderno, elogiava, dava até nota de desenho aleatório, fazia, eu gostava de desenhar, e foi bem gostoso. Eu estudei três anos nessa escola.
Pergunta:
O que mais você gostava? Você falou que gostava, tanto é que teve esse lance da publicidade, gostava de desenho, creio que educação artística um pouquinho mais para frente deveria ser uma disciplina que você gostava e tal. O que mais você lembra de aulas que você achava legal e quais aquelas que você: ‘poxa, isso aqui não era muito minha cara'.
Resposta:
Eu me considero estudiosa, sempre gostei bastante de estudar. Tenho isso...desde 1975 foi difícil o ano que eu não estudei alguma coisa, eu sempre estava empenhada em fazer um cursinho, uma aula, até que fosse um curso de flores, qualquer cursinho assim eu gostava de fazer, sempre participei. E de infância, que tinha na escola, eu fazia os trabalhos, ia à biblioteca, então minha mãe já deixava eu ir de ônibus na biblioteca, fazer trabalhos, copiar aqueles trabalhos extensos, no papel sulfite, né? No sulfite não, no almaço. A gente tinha que fazer, não podia tirar cópia, então ia na biblioteca e ficava lá horas copiando coisas, fazendo os trabalhos, isso eu lembro que era de educação moral e cívica, uma matéria que deveria ter até hoje nas escolas, que tiraram do currículo, mas era bem gostoso.
Pergunta:
Bom, aí você, legal, está na escola, você fez o ensino básico todo em Mauá, né?
Resposta:
Todo em Mauá, em escola municipal.
Pergunta:
Escola municipal...
Resposta:
Ou estadual.
Pergunta:
Depois no ensino médio você já foi direcionada na questão da publicidade ou não, você fez o ensino médio normal?
Resposta:
No ensino médio eu fiz técnico em Secretariado, porque aí eu queria fugir da educação...da educação não, da física e química. Então, eu só fiz o primeiro ano que era básico, e aí meus irmãos falavam que era muito difícil, e aí eu fui fazer um curso técnico, só para me livrar dessa parte. E fiz secretariado numa escola, Visconde de Mauá.
Pergunta:
O que você lembra dessa época lá no Visconde de Mauá?
Resposta:
Aí eu escolhi um curso que eram só mulheres, só tinham meninas na classe. E aí eu lembro que tinha um professor de psicologia que ele falava para a gente: ‘nossa, vocês escolheram um curso para ser empregada, vocês deveriam escolher um curso para ser patrão, vocês vão ser sempre secretárias dos outros, vão trabalhar para alguém, tem que mudar essa fase da vida de vocês'. Ele falou que nós escolhemos mal o curso, o professor de psicologia. Mas assim, o curso foi gostoso, a gente aprendeu bastante coisa. Tinha uma professora de português chamada Olga, essa professora descontava ponto se você não pusesse um acento, uma vírgula, não cortasse o T, a sua nota ia vim bem reduzida. Tinha que estar tudo muito certinho. E aí nos primeiros anos ali foi muito difícil a primeira prova, na segunda eu aprendi a colocar todos os pontos, o ponto no I, porque era uma professora terrível, e foi importante, foi importante essa professora, que a gente se disciplina a escrever direito, fazer as coisas direito, não fazer relaxadamente. E aí também tive literatura com a professora que eu gostava bastante, ainda gosto. Eu me lembro, me lembro até das provas dessa professora, ela marcou bastante a minha vida.
Pergunta:
Tem contato com ela ainda ou não?
Resposta:
Não, foi só no primeiro ano do colégio e nunca mais. Mas ela era temida na escola [10'].
Pergunta:
Como que era o nome dela?
Resposta:
Olga.
Pergunta:
Ah, Olga. E nessa altura você já estava trabalhando, como foi essa entrada no mercado de trabalho?
Resposta:
Então, no segundo ano, eu fui fazer estágio de secretariado. Aí fiz na empresa CBC, que até tinha aqui próximo à USCS.
Pergunta:
Em São Caetano.
Resposta:
É, onde é a Anhanguera hoje. Então, eu fiz estágio ali de secretariado, e também fiz na Rede Ferroviária Federal, fiz dois estágios. Após isso, eu fui trabalhar numa outra empresa, mas já sem ser estágio mesmo, chamava Wallace Revestimento, era uma empresa de pisos, carpetes, essas...foi o meu primeiro emprego.
Pergunta:
Como secretária.
Resposta:
É, como secretária.
Pergunta:
Qual que é a recordação que você tem desses, tanto desse primeiro emprego, quanto dos estágios?
Resposta:
Bom, dos estágios é assim, eu entrei na empresa e a secretária tinha saído de férias, ela saiu na sexta-feira e eu comecei na segunda. Então, eu cheguei, tinha uma carta para mim, tudo escrito num caderno, o que era para fazer e como deveria ser feito. Aí, tinha um bilhete indicando, pegue na gaveta, aí eu fui lá, sentei e comecei a ler o que eu tinha que fazer, o meu serviço, e era um laboratório, onde fazia as provas de bala, balístico, onde eles treinavam tiro, essas coisas. E lá fui eu, primeiro emprego, nunca tinha trabalhado, estágio, e já ter que começar. E fui indo, acho que eu fui bem, trabalhei, consegui fazer tudo, dei conta do recado, fui aprendendo, sofrendo alguns bullyings do pessoal e da produção que tinha lá, mas consegui.
Pergunta:
Você lembra de alguns desses bullyings?
Resposta:
Ah...era como atender telefone, que eu falei: ‘alô', não era para falar alô, você tinha que falar o nome, balístico, bom dia, boa tarde, aí já começaram a rir da minha cara, aí toda hora que eu atendia o telefone tinha alguém espiando atrás da porta para ver o que eu ia falar, então tinha um pessoal da produção ali que, mais jovem, que começava. Mas eu tinha todo o apoio do setor da engenharia, que explicava, que sentava e explicava, como que tinha feito cada processo.
Pergunta:
Serviu mesmo de um aprendizado então, esse estágio______ junto ao curso...
Resposta:
Serviu. É, na verdade, nem foi assim um estágio, foi assim, um emprego que eu cheguei e comecei a trabalhar, ninguém me ensinou. Eu tive que chegar, ler e fazer da forma que tinha que ser feito.
Pergunta:
Nessa época você tinha quantos anos?
Resposta:
Eu tinha 17.
Pergunta:
Dezessete anos. E aí partiu para outro estágio.
Resposta:
Para um outro estágio...
Pergunta:
E depois já trabalhar.
Resposta:
Para o primeiro emprego. E era bem complicado, né? Tanto quanto hoje arrumar emprego. Ainda assim, era menor, você não conseguia porque era menor, aí passava maior, não conseguia porque não tinha experiência, mesmo tendo estágio, aí o pessoal: ‘ah, mas você não tem experiência, não tem experiência', então a gente ficava...
Pergunta:
O que mudou na sua vida com essa entrada no mercado de trabalho? Você falou que, por exemplo, quando você entrou na escola, você já passou a ter amigas, já saiu daquele núcleo familiar. Ao começar a trabalhar, o que você se recorda que houve impacto assim?
Resposta:
É sempre aquela coisa, né? O que que você quer? Ah, quero comprar uma roupa, aquele sapato, aquele vestido, aquele jeans, que a família não podia, mas também tinham as complicações que tinha que ajudar a família, então tinha que fazer assim, dividir entre comprar uma coisa para mim e ajudar também a família. Foi uma época também que meus pais separaram, que foi bem complicado também para a nossa família.
Pergunta:
Vocês moravam com seu pai, sua mãe e seis filhos?
Resposta:
Cinco.
Pergunta:
Cinco filhos. Quatro filhos e uma filha.
Resposta:
Isso, são quatro e eu.
Pergunta:
E aí você, nesse momento, estava entrando no mercado de trabalho, seus pais se separaram e você continuou morando...
Resposta:
Com a minha mãe e meus irmãos.
Pergunta:
E como foi, já no ensino médio, essa opção pela área da Publicidade, para fazer a faculdade, como foi esse salto do ensino médio para o ensino superior?
Resposta:
Então, aí a gente estava na época de...depois terminei o colégio e fiquei sem fazer faculdade, fiquei sem estudar um tempo, devido à questão financeira, não dava para pagar uma faculdade, coisa desse tipo. Eu tinha ido fazer uma entrevista de emprego, na Moóca, na Moóca e no Ipiranga. Eu fui fazer uma entrevista de emprego. Aí estava saindo dessa entrevista, tinha eu e uma outra moça, era para secretária também. Aí a outra moça morava muito mais perto, e nós já tínhamos conversado antes de entrar para a entrevista. Aí quando eu saí e a moça falou: ‘ah, então você aguarda o nosso contato'. Mas aquele aguarde estava dizendo que eu não fui a escolhida entre nós duas, então assim, eu tinha um agravante. Eu ia muito bem nos testes, mas o que acontecia, quando falava: ‘onde você mora?', ‘em Mauá' [15']. Aí, sendo morador de Mauá, já tinha um preconceito, acho que tem até hoje, meio preconceito, aí falava: ‘ah, você mora em Mauá? Mas Mauá é muito longe, terra de índio', essas coisas [risos] e era complicado. Estava tudo muito bem, falava que morava em Mauá, o entrevistador já mudava. E aí eu tinha saído de uma entrevista de emprego em uma indústria que chamava Papel Simões eu acho que essa daí já até faliu, e tinha duas opções para ir para Mauá, ou eu pegava o trem, ou eu pegava o ônibus, aí eu falei: ‘vou de ônibus'. Subi pela Silva Bueno, e aí eu vi uma placa numa agência de emprego, vagas no ABC. Então, entrei na agência e fui lá, preenchi minha ficha, fiz uma entrevista e o rapaz falou: ‘tem uma vaga para o IMES, lá no ABC, só que é tarde e noite, você não quer?', eu falei; ‘quero, eu vou'. Era uma época difícil que foi do plano Collor, teve o confisco, todas as empresas estavam sem dinheiro, dependia da liberação do banco, então era uma área bem difícil. Tanto que eu ia ser efetivada numa outra empresa que chamava Nordon, mas por causa do plano Collor cortaram todas as efetivações, e aí fui eu procurar emprego de novo, e eu era temporária nessa vaga. Então, daí eu fui vim na USCS fazer entrevista, fiz uma ficha e fiquei aguardando. Aí isso foi em julho de...junho de 1990, aí eu comecei a trabalhar na USCS. Então, foram quatro funcionárias que prestaram ali, que trabalharam, que fizeram aquela entrevista, e aí a gerente me escolheu para trabalhar com ela, para ser secretária dela, das quatro eu fui escolhida, né? Então era um horário ruim, que era tarde e noite, mas por outro lado, dava para estudar de manhã, para procurar outro emprego de manhã. E aí eu aceitei o emprego e comecei a trabalhar na USCS, e aí veio a oportunidade, posso trabalhar, posso fazer faculdade, e depois de algum tempo abriu o curso de publicidade e eu fui da primeira turma.
Pergunta:
O curso de publicidade da USCS.
Resposta:
Da USCS, isso.
Pergunta:
Podia falar então um pouco mais desse seu primeiro contato com a USCS, com o IMES, né? Você foi para fazer uma entrevista de emprego. Você já conhecia a instituição...
Resposta:
A USCS eu já...eu conhecia assim, eu passava de ônibus aqui desde de muito pequena, e eu via sempre a faculdade, desde o começo aí, eu via a faculdade. E eu sempre passava por aqui e pensava: ‘o que que é isso?', né? ‘O que que é isso', era pequenininho, e eu sempre passava, eu passava de ônibus, e quando eu comecei a trabalhar no meu primeiro emprego na Wallace, tinha um contador que falou: ‘olha, por que você não estuda no IMES? É perto, você mora em Mauá, vai estudar lá!', ele falou assim: ‘ah, é municipal, é gratuito'. E o pessoal...tinha essa questão, que o pessoal achava que era gratuito, e eu falei: ‘ah, quem sabe um dia eu estudo lá'. Então eu saí dessa empresa, e depois nem pensei que eu viria trabalhar e estudar aqui na USCS, depois que eu fiz essa entrevista.
Pergunta:
Quem era a pessoa...você disse que quem te escolheu era uma gerente, para ser sua secretária. Quem era essa pessoa?
Resposta:
A senhora Vera Lúcia.
Pergunta:
Ah, legal. Então você fez a entrevista, não com a Vera?
Resposta:
Com a Vera.
Pergunta:
Você fez com ela, e ela acabou optando.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
E você começou a trabalhar de secretária dela, da Vera no IMES. Queria que você falasse um pouquinho, primeiro como era, você lembra aí do seu trabalho, dessa sua atuação nesse momento, e como era a universidade naquela época?
Resposta:
Naquela época só tinha o prédio B, é, o prédio B, e tem a parte do subsolo, ficava a parte administrativa, a diretoria. Tinha um jardim muito bonito, com árvores bonitas, que eu gostava, tinha aqueles...não sei, não lembro o nome daquelas árvores, mas que fica caindo aqueles galhos que parece um chorinho assim [mostra com as mãos a forma da árvore] que eu falo que é um pé de choro, mas eu não sei o nome daquilo, desde pequenininha eu falava isso, e eu gostava daquelas árvores que tinha, eu lembro da entrada, de paralelepípedo do estacionamento, e aquele portão que a gente tem até hoje, aquelas gradinhas que fechavam o portão da USCS. Então eu vim, e procurei o RH, que ficava embaixo, no subsolo. Preenchi uma ficha, a dona Vera estava de licença maternidade, então acho que isso foi mais ou menos em março de 1990. E aí a gente só foi ser chamada e efetivada depois que ela voltou a trabalhar, quando terminou a licença dela mesmo, que foi em junho. Aí eu voltei. Então eu trabalhava em dois períodos...em dois períodos não, em dois setores [20']. Enquanto ela não chegava, eu trabalhava no atendimento ao aluno. Depois que ela chegava, eu passava a ser secretária dela. A minha primeira função foi organizar o arquivo dela. Tinha várias caixas, muitas caixas, muito papel, um armário cheio de papel e eu tive que organizar tudo isso. E essa organização permaneceu por muitos anos. Do jeito que eu fiz, foram utilizando e ficou...até os dias de hoje acho que ainda está essa parte aí do meu arquivo que eu fiz.
Pergunta:
Queria falar um pouquinho então dessa sua trajetória na universidade. Você entrou na universidade em 1990, primeiro fazendo essa dupla jornada, né? Atendendo o aluno, então você tinha ali um contato com o aluno da universidade, então eu queria que você falasse um pouquinho de como era esse aluno do IMES em 1990 por essa relação que você tinha e como foi sua trajetória dentro da universidade até a gente chegar agora em 2016.
Resposta:
Então, no atendimento a gente entregava uns carnês de pagamento para os alunos. Então os alunos chegavam, e tinha uma máquina, umas máquinas antigas que a gente cortava aquele carnezinho, ia cortando, picotando, na ordem que era impresso. A gente colocava isso numa caixinha em ordem e o aluno chegava, fazia a matrícula e a gente entregava, e ia entregando para cada aluno, falava a matrícula e a gente entregava o boleto. Mensalmente, eles vinham buscar esse boleto para pagamento. Então tinha alguns alunos que tinham uma relação muito próxima, que nós conhecíamos, sabia os nomes, sabia onde morava. O pessoal do atendimento às vezes jogava futebol com esses alunos e funcionários, tinha uma relação mais próxima com alguns deles, e aí eu ficava nesse período e depois eu passava para trabalhar com a Vera... eu estou me perdendo.
Pergunta:
Não, está ótimo...
Resposta:
[risos] Eu estou me perdendo.
Pergunta:
Acho que é muito legal, então você descreveu esse início, né? Então realmente hoje a gente pensa que o aluno, para poder pagar a mensalidade tinha que ir no departamento pessoal e pegar esse...
Resposta:
No atendimento ao aluno.
Pergunta:
Ir no atendimento ao aluno e pegar esses pedacinhos de papel. Pensa na mudança de lá para cá, hoje o cara pega lá pela internet. Mas...
Resposta:
E mês a mês. Todo mês ele tinha que ir buscar o carnezinho para pagar.
Pergunta:
Você destacou essa relação com aluno, acredito que por ser uma instituição menor possibilitava isso. O número de...por exemplo, quantas pessoas trabalhavam com você no atendimento ao aluno?
Resposta:
Umas quatro, cinco pessoas. O IMES tinha...eram bem poucos funcionários naquela época, tinha menos de 60 funcionários. Administrativos, era bem pouquinho.
Pergunta:
E como que foi a sua trajetória, quer dizer, depois que você...desse período que você ficou como secretária da Vera.
Resposta:
Eu fiquei aproximadamente uns 10 meses, talvez menos. Aí teve um problema no RH. Então saiu a pessoa que trabalhava lá, pediu demissão, e aí ficou sem ninguém para trabalhar, então tinha uma outra moça que estava lá e era pouco tempo. Aí a dona Vera me passou para trabalhar no RH para ajudar, que também era uma época que tinha que regularizar os concursos, porque o pessoal não era concursado, então tinha que colocar em prática a legislação. Então eu fui fazer processo, e comecei a trabalhar e fui ficando, e estou até hoje.
Pergunta:
De 1991 para cá você está atuando no RH.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Bom, você citou uma das legislações, que se não me engano a legislação é de 1988, a constituição que passa a exigir a questão do concurso. Me fala um pouquinho das transformações da área de RH da universidade, quer dizer, você deve ter vivido várias transformações na medida em que a universidade também ia crescendo, e o RH teve que se adaptar aos novos momentos, como por exemplo, essa questão da legislação do concurso público. O que você destacaria nessa trajetória do departamento de RH da USCS?
Resposta:
Então, em princípio, foi regularizar essa parte. Então, todos que já eram empregados tiveram que prestar concurso público. Aí a legislação dizia que, quem tivesse mais que 10 anos na função, ele já tinha uma estabilidade. Quem tivesse menos, se não passasse no concurso, seria demitido. Então, tivemos alguns casos de demissão, na época as pessoas não passaram e foram demitidos, e também entraram outras pessoas novas. A primeira parte foi administrativo, então regularizou-se isso. Aí, no ano seguinte, passou a fazer o primeiro concurso para professores, também para regularizar [25']. E, a partir daí, sempre foi tendo concurso, todo ano basicamente para professores, então esse quadro...eles contratavam precariamente, então assim, contratava um professor por seis meses, e esse professor vinha prestar concurso público, mas depois isso não pode mais ser feito, então foi só através de concurso, de 1993 para cá, foi sempre por concurso. Ai gente, estou me perdendo, pára Luciano.
Pergunta:
Ione, está ótimo, corta! [risos]
Resposta:
Corta, corta!
Pergunta:
Você quer tomar uma água, comer alguma coisa, fazer uma horinha?
Resposta:
Não.
Pergunta:
Pode ficar na boa, viu?
Resposta:
Eu estou de boa. Depois vocês vão editar tudo isso, né gente? Vocês vão cortar bem legal.
Pergunta:
Está ficando bem legal, de verdade. É exatamente isso que a gente precisa, saber um pouquinho de uma história que só você que viveu essa história.
Resposta:
Para de fazer perguntas difíceis! [risos]
Pergunta:
Então vou fazer uma bem facinho. Não vamos falar em coisa difícil. Você tinha entrado há pouco tempo na universidade, você teve que prestar, fazer o concurso. Como que foi essa questão, teve que estudar muito? Ralou muito?
Resposta:
Pro vestibular?
Pergunta:
Pro concurso.
Resposta:
Ah, para o concurso, não.
Pergunta:
Ah, para o concurso você já estava...
Resposta:
Para o concurso eu não estudei muito, assim, não me lembro de ter estudado, mas eu fiz o concurso.
Pergunta:
Mas você fez o concurso?
Resposta:
Sim, prestei o concurso, passei, foi aprovada, mas não me lembro de ter estudado, que era uma época que eu era vestibulando, tinha saído há pouco tempo do ensino médio, as coisas estavam bem nítidas na memória. Então, eu não estudei, e acho que todos os concursos que eu prestei até hoje eu não estudei, eu sempre dei uma lida no que ia cair e fui prestar o concurso. Eu consigo assim...eu tinha uma memória boa, eu acho que ainda tenho, de lembrar muitas coisas ainda de literatura quando eu estudava. Então, hoje os meus filhos estão na escola e falam: ‘ah mãe, vamos estudar...', e pergunta lá de um poema, aí eu falo: ‘ah, é Augusto dos Anjos', por exemplo. Um poema que eu gosto que eles odeiam é Psicologia de um Cardíaco.
Pergunta:
Fala um pouquinho para a gente. __________
Resposta:
Eu vou lembrar só um pedacinho, que ele fala assim: ‘Eu, filho do carbono e do amoníaco, profundamente hipocondríaco, e essa ânsia, análoga ânsia, que sobe da boca de um cardíaco'. Então ele vai falando assim, vai descrevendo a morte, e eu achava muito bonito esse poema, porque ele escrevia tão bem, e meus filhos odeiam, e às vezes eu ficava falando para eles. E eu lembro bem das partes de literatura. Essa parte vocês vão cortar, hein? Essas partes aí você vai tirar, eu não quero, tá? Mas eu estou falando aqui.
Pergunta:
A poesia ficou linda!
Resposta:
Linda, mas eu já me perdi nela. Já me perdi em parte, é mais ou menos isso. Eu gostava dessas poesias, então assim, quando eles estão falando de literatura, aí eu lembro dos poemas, de quem são, algumas coisas, alguns autores, e eles falam: ‘nossa mãe, você está tão velha, como você lembra disso ainda, faz tanto tempo'.
Pergunta:
Que sutis eles, uma coisa bem sutil.
Resposta:
‘Você está tão velha, como você lembra, na sua época tinha isso?' [risos]. Coisas desse tipo eu tenho que ouvir. E daí é que eu falo, eu não ficava estudando muito, eu tinha uma memória boa, né? Hoje eu falo que eu tinha uma memória ruim, mas antes eu tinha uma memória boa. Eu lembrava bem das coisas.
Pergunta:
Vamos explorar um pouco dessa sua memória boa então.
Resposta:
Agora você vai me pegar na mentira, hein? De repente não é tão boa assim.
Pergunta:
O objetivo nem é isso. O objetivo, você falou que está na USCS desde 1990.
Resposta:
Isso, são 26 anos.
Pergunta:
Então você acompanhou várias transformações da universidade. Você bem disse, você tinha uma instituição com um número reduzido de alunos...
Resposta:
De funcionários.
Pergunta:
De funcionários, com uma relação até mais próxima, que aliás nem era uma universidade ainda, era o que a gente chama de instituto isolado. Eu queria que você falasse um pouquinho sobre essas transformações da USCS que você acompanhou. Como que você vê essas transformações que você acompanhou de dentro da própria instituição?
Resposta:
Você fala de virar universidade...
Pergunta:
De toda a sua trajetória na USCS. Quer dizer, quando você para para pensar um pouco, você fala: ‘poxa, são 20 anos'...
Resposta:
Vinte e seis.
Pergunta:
Vinte e seis anos, né? Na USCS, uma instituição que completou agora 48 anos, e vive grande parcela desse período. Queria que você falasse um pouquinho. Se alguém te perguntasse: ‘fale um pouquinho sobre essa vivência que você teve na USCS durante esses anos'. O que você falaria, o que ficou de uma forma mais clara?
Resposta:
Boa pergunta! [30'] Bom...era um instituto municipal, e ela foi crescendo. Não me lembro assim, mil novecentos e quanto...1995 quando começou a construção dos outros prédios, que na época era o professor Marco Antonio que estava na direção, e o IMES começou a crescer, começou a criar mais prédios, mais cursos, virou centro universitário, e depois universidade, e aí foi se adaptando também, concorrendo com outras faculdades. Uma coisa que sempre teve na USCS é que tinha um bom nome no mercado, é um curso forte. Tinha o melhor curso de Administração, aí na década de 1990 se falava nisso. Depois veio o curso de Direito também, que é um curso forte, de computação e [pausa longa], e o que mais?
Pergunta:
Não precisa se ater muito a datas oficiais, em 2000 foi isso, em 2000 foi aqui.
Resposta:
É que eu fico lembrando das fases, me lembro do plano Real, da URV, essas coisas mais ligadas ao RH, a época do Plano Real que estava, como é que estava...
Pergunta:
Quais eram as suas dificuldades, quer dizer, na sua rotina, na rotina de quem está ali trabalhando no DP, na área de Departamento Pessoal da universidade, o que você lembra: ‘Isso aqui foi um problemão para a gente', ou ‘Isso aqui foi muito legal', os encontros de funcionários, o que você tem na memória quando você pensa nessa trajetória sua dentro da USCS?
Resposta:
Boa pergunta! Eu não sei...você devia ter passado antes para eu pensar [risos].
Pergunta:
Não tenho pressa e não tem nenhum problema.
Resposta:
Para eu pensar, Luciano.
Pergunta:
Pensa, pensa bem!
Resposta:
Houve uma época que foi criada uma associação de funcionários. Nós tínhamos uma associação de professores e, depois de algum tempo, não lembro em qual ano, que o Marco Antonio deixou criar uma associação de funcionários, então vários funcionários aderiram, e a partir daí a gente começou a ter mais eventos, festas, jantares, passeios, e aí foi uma época que as pessoas estavam mais unidas. O IMES ainda era muito pequeno, no número de funcionários nessa época, o pessoal se conhecia, era tipo A Grande Família, o pessoal se conhecia bem. Hoje não, já está tudo...com tantos prédios, as pessoas estão cada uma num lugar diferente, fica mais difícil essa...sei lá como a gente fala, essa comunhão de funcionários que temos. Fica mais complicado, se distanciou. Nós temos hoje muito mais distantes do que antes, um mais isolado aqui no campus Centro, no campus Barcelona, então criou-se uma distância, mas essa época foi boa, a direção participava bastante, a gente ia em festas, ia assim, em algum sítio, colocava aberto onde tinha atividades, brincadeiras, que fazia entre funcionários, a família podia participar, os filhos, parentes, então foi uma época bem gostosa de confraternização. Confraternização, não era comunhão, está vendo? Agora eu lembrei [risos].
Pergunta:
Quem trabalhava com você, quem era sua equipe de trabalho quando você chegou?
Resposta:
Minha equipe era eu e a Marli, trabalhamos muito tempo só nós duas. Aí tivemos o Nelson Bonesso que também trabalhou um tempo, e que ficou sendo a nossa chefia por bastante tempo. Depois, o Nelson saiu, a Marli saiu, entrou a Odete e mais uma terceira pessoa. Aí essa pessoa ficou mudando, ficou a Silvia (Mamude), que ainda trabalha aqui, a Ana Paula, e depois a Noeli. Não, o Leonardo, que foi um funcionário bastante...que a gente gosta dele bastante até hoje, trabalhou, um menino muito inteligente, e depois a Noeli. Hoje a nossa equipe, somos em três apenas. Cresceu, né? De dois para três, aumentou.
Pergunta:
Você queria uma pergunta fácil, então vou dar uma bem facinho para você. O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
[pausa longa] [risos] Como é que eu vou responder isso? Bom, pelo tempo que a gente trabalha aqui, tudo que eu tenho, eu consegui através do meu trabalho na USCS, então eu vejo assim, que é uma boa empresa para trabalhar, é uma empresa que paga salários, nunca atrasou salário de funcionários, nunca atrasou encargos sociais, que a pessoa pode contar sempre que vai ter, como o professor Silvio falou numa reunião: ‘vocês podem comprar geladeira que os salários serão pagos normalmente'. [35'] Então, você tem a confiança, você sabe que você vai ter o seu salário, que você tem a oportunidade de estudar, de dar apoio também para estudar, de curso eu fiz faculdade, fiz pós-graduação, poderia ter feito mestrado e doutorado se quisesse. Então, eu acho que ela representa assim, um apoio, nos dá um apoio no sentido de conhecimento, de estrutura, de poder estudar.
Pergunta:
O seu curso foi publicidade. Fale um pouquinho do que você lembra da época que você estava fazendo graduação na universidade?
Resposta:
Olha, ja faz 20 anos isso, Luciano.
Pergunta:
Você acabou de recordar aqui com detalhes como foi a educação infantil, _______
Resposta:
Eu entrei na faculdade, comecei a fazer no ano seguinte que eu me casei, o meu marido estudava, eu falei: ‘vou estudar também'. Se ele vai estudar, eu vou ficar em casa sozinha, então vou estudar também. Então, estudamos. Aí eu comecei a fazer, então foi um curso assim, que eu entrei já com 28 anos, e aí aquela molecada estudando. Então, de gente mais velha, tinha umas duas ou três pessoas no curso, então era bem complicado, com aquela garotada, e a gente estudando assim, mais velha, entrar na faculdade. Mas foram quatro anos bem gostosos. Aí nesse...acho que eu estava no terceiro ano, eu engravidei a primeira vez, aí para levar o curso, o trabalho e estando grávida, e eu lembro bastante do último ano, do trabalho de conclusão, que a gente só ia para participar da agência, então íamos duas vezes por semana. Nossa, isso foi ótimo, ter que ir na faculdade só para fazer o trabalho de conclusão, pegar orientação e como eu tinha um filho pequeno, era ótimo, que só duas vezes na semana eu ia na faculdade, na agência experimental. Então eu lembro o nome da nossa agência se chama Sete, porque nós éramos em sete. Que nome por? Sete. Então, tinha uma turminha boa na...infelizmente não tenho mais contato com esse pessoal, mas foi uma turminha legal de recordar até hoje. Então a gente, além da faculdade, nós sete sempre saíamos, ia passear, fazer alguma coisa, mesmo casada, nós sete estávamos sempre juntos até no final do curso aí. E eu não participei da formatura porque eu estava com um bebê muito pequeno, e ia ser meio complicado participar, mas gostaria de ter participado. Mas, foi um curso bem gostoso, a publicidade é bem light, a gente se sente bem à vontade para fazer as coisas, para criar as peças, e nossa propaganda foi sobre, nosso trabalho de conclusão foi sobre Chikenitos, criamos peças publicitárias lá.
Pergunta:
Lembra do slogan?
Resposta:
É...a gente falava que era o melhor na hora do rango, o Chikenitos. Então o filme que nós fizemos tinha assim, uma pessoa, não me lembro quem que foi que gravou do meu grupo. Então tinha um anjinho e um diabinho, e um ficava ali jogando as ideias e os pensamentos nas pessoas, aí um falava uma coisa, o outro falava outra, e a pessoa acabava lá escolhendo o Chikenitos, e aí o slogan era: ‘Chikenitos, o melhor na hora do rango'. Tinha até o Kleber Perossi di Lázzari, que fez a dublagem lá, ficou bem bonitinho o nosso vídeo. Nós ganhamos até menção honrosa num desses...como que chama...nesses eventos que a gente...olha, está vendo? Já esqueci essa parte! Está vendo? Tem coisa que eu lembro tão bem, tem coisa que eu não consigo [risos]. E aí o professor Marin tinha escrito nosso vídeo, o novo filminho, a nossa propaganda...desses prêmios aí, uma premiação, aí nós ganhamos uma menção honrosa, bem bonitinho.
Pergunta:
Você citou o professor Marin, quem mais você lembra de professores, das aulas?
Resposta:
Ah, o professor Marin, o Herom, era bem bacana. Falando em professor Herom, sonhei com ele! Sonhei com ele essa noite, não sei por que. Eu sonhei com o professor Herom. O professor Marin, deixe-me ver, o professor Roberto Elísio, também foi muito legal... Ah, tem tantos professores, que já saíram daqui também, mas um que eu destaco bastante é o professor Herom. Lembro dele na Bienal das Artes, dos trabalhos, isso que ele foi professor do primeiro ano e ficou assim, para a vida toda [40'].
Pergunta:
Você falou então que, com 28 anos, você se casou e foi quando você sai de Mauá, e você veio morar onde, aqui em São Caetano?
Resposta:
Na verdade, eu continuei morando em Mauá.
Pergunta:
Continuou morando em Mauá...
Resposta:
Comprei casa em Mauá, só vim morar em São Caetano há oito anos.
Pergunta:
Aí hoje você mora aqui em São Caetano. Você disse que o teve o seu primeiro filho, você ainda estava na faculdade. Hoje, você tem quantos filhos?
Resposta:
Três.
Pergunta:
Qual é o nome dos seus três filhos?
Resposta:
André, Marcos e Rafael.
Pergunta:
São três meninos.
Resposta:
Três meninos.
Pergunta:
Qual foi que nasceu quando você estava no terceiro ano?
Resposta:
O André. O André vai fazer 18 anos mês que vem.
Pergunta:
Terminada a graduação, você falou que acabou fazendo a pós-graduação também na USCS, né?
Resposta:
Fiz.
Pergunta:
Essa pós, como que foi?
Resposta:
Aí eu fiz pós, em Gestão de Pessoas, na área que eu trabalho, de RH. Então, a pós foi uma época complicada para mim. Comecei a fazer o curso, estava com a minha mãe doente e...e aí...comecei a fazer, minha mãe internada, então tinha aquela coisa, vinha duas vezes por semana, dormia no hospital, saía do hospital, vinha para cá, saía daqui, ia para o hospital, ia trabalhar, levar filho na escola, então foi uma época bem difícil para fazer o curso, e também para fazer o trabalho de conclusão de curso. Foi difícil, foi a época que minha mãe faleceu também, mas essa parte eu queria pular.
Pergunta:
Ah, sem problemas. Ione, eu queria que você falasse um pouquinho como é a sua rotina hoje na instituição. Como é a sua rotina de trabalho, se é que existe uma rotina.
Resposta:
Sim, a rotina é basicamente como as outras empresas, o RH não muda, por ser uma empresa pública, eu estou na coordenação do departamento, tem a Noeli e a Odete que trabalham conosco, e é toda a rotina. Eu fico com a parte de elaboração de relatórios, atender à reitoria, de conferência, de manter as rotinas. A Odete fica com a parte de folha de pagamento, mais centrada nessa área de folha de pagamento, e a Noeli fica com as outras coisas, com ponto, cuidando de contratação, de relatório de funcionários, de declarações, de pagamento de autônomos, e a Odete fica com a parte de folha e encargos, e o restante que sobra fica para mim. E aí, eu acabou ajudando também, porque às vezes falta mão de obra, e tenho que parar meu serviço também às vezes para fazer folha, para ajudar a Noeli em outras coisas, então eu fico dividida. Hora estou ajudando uma, hora estou ajudando outra, e hora estou fazendo os meus serviços.
Pergunta:
Ione, pensando naquela Ione que você chegou aqui na USCS, em 1990, e naquela instituição que a Ione encontrou em 1990, você consegue traçar um paralelo assim, do que mudou e do que não mudou em relação tanto à Ione, quanto à instituição? Você consegue fazer esse paralelo? Não sei se você conseguiu entender.
Resposta:
Olha, o que não mudou eu acho que foram os funcionários, que éramos dois e estamos em três. Isso não mudou muito, mas assim, toda a evolução tecnológica. Antes a gente tinha que usar muita coisa tudo em papel, já tínhamos a folha de pagamento, mas ela foi informatizada, mas assim, tudo que pode ser informatizado, eu ia atrás na época. Tinha disquete, então tinha coisas que o pessoal mandava em papel, por exemplo para a Caixa Econômica. Aí eu falava: ‘mas gente, existe o disquete'. Eu fui uma vez lá na Sé, bem longe buscar um disquete, para instalar um programa, e aí onde a gente ia gravar os dados, e levar em disquete na Caixa Econômica, ou levar em disquete na Receita Federal. Então, a nossa transmissão de dados era via disquete. Hoje a gente aperta um botão e envia do computador. Aí, tudo que podia melhorar, eu sempre fui atrás desses melhoramentos, né? Para a empresa. Aí falava: ‘ah, está informatizado tal parte, tem que buscar um disquete'. Então não pense que eram aqueles disquetes pequenininhos, eram aqueles grandes, acho que era cinco e um quarto. Então eu ia lá para São Paulo atrás disso, gastava horas de condução para chegar, para trazer a tecnologia para nós utilizarmos [45']. Hoje, embora a gente tenha toda a tecnologia, as rotinas são as mesmas. A parte que a gente tem que digitar, entrada de dados, continua basicamente a mesma coisa. O que mudou é a forma de fazer isso, que você faz no computador, não tem que datilografar, não tem que tirar cópia, ficar preenchendo formulários. Agora, com relação a mim, há uma evolução. Quando eu entrei, eu não sabia nada de DP, então a dona Vera confiou em mim e me delegou essa parte, e eu fui aprendendo. Fui lendo, fazendo cursos, aprendendo toda a rotina e me especializando a cada ano, buscando conhecimento para estar aqui até hoje.
Pergunta:
Quando eu converso com professores por exemplo, principalmente esses que entraram na USCS há um tempo um pouquinho mais atrás, eu sempre perguntou sobre o aluno, mudou o aluno? Quer dizer, o aluno continuou o mesmo? O que ele sente daquele aluno que estava lá nas salas nos anos 1990 e desses que tem hoje em 2016. Para você, eu queria fazer um paralelo com os funcionários. Ao atender o funcionário, o departamento pessoal é um departamento que tem um contato grande com o funcionário, você consegue detectar isso? Mudou alguma coisa também nesse funcionário dos anos 1990, dos anos 2000, para agora meados de 2016?
Resposta:
Olha, eu não consigo perceber essa mudança. O funcionário é o mesmo, eles querem saber sempre as mesmas coisas, as mesmas perguntas, essa parte assim não mudou. Eu creio que não evoluiu, porque a rotina é a mesma, o que mudou é a parte tecnológica, e as pessoas são as mesmas.
Pergunta:
O que interessa, o que move as pessoas continua sendo as mesmas coisas.
Resposta:
Os mesmos interesses. Saber sobre o seu salário: ‘olha, vocês erraram no meu salário'. Aí chega lá tem que explicar. As férias, todo ano, há 26 anos, tem pessoa que vem perguntar as mesmas coisas, e nós damos as mesmas explicações. Aí fala: ‘ah, vocês erraram o meu salário'. Aí a gente pergunta: ‘onde erramos?', e aí a pessoa fala, e nós explicamos de novo. ‘Está errado', e a gente explica de novo. Então dificilmente tem um erro, pode acontecer, mas dificilmente tem erro, a pessoa que está equivocada, e o funcionário continua o mesmo, e são os mesmos, os que fazem as perguntas, fazem as perguntas, os que não fazem as perguntas, nunca vieram perguntar, não vêm. Tem funcionário que eu falo: ‘poxa, esse nunca veio aqui'. O Luciano por exemplo.
Pergunta:
Eu achando que iria ficar escondidinho aqui atrás das câmeras.
Resposta:
Não vai lá assim perguntar, mas tem uns que toda vez perguntam as mesmas coisas, e cometem os mesmos erros. Tem as mesmas faltas, os mesmos atrasos, e as mesmas reclamações, e eu não consigo perceber essa mudança.
Pergunta:
Já que a gente não falou das flores, tem também o lado negativo, queria que você me falasse, se parar para pensar, qual foram as suas alegrias, ou qual foi sua maior alegria que você viveu na USCS? O que vem a sua mente?
Resposta:
[pausa longa] Luciano, dá para parar um pouquinho, tomar uma água?
Pergunta:
Claro, pode! A gente já está acabando, mas pode beber água à vontade. Vamos tomar uma aguinha, eu também vou tomar [pausa para beber água].
Resposta:
Vamos lá.
Pergunta:
Vamos lá, vamos de novo? Um, dois, três e...
Resposta:
Gravando! Olha, não sei se tem um momento mais feliz, eu vou dizer que eu não tenho um momento infeliz, não vou dizer que teve momento felizes. O serviço que eu faço, eu gosto de fazer, era uma área que eu não tinha trabalhado ainda, embora eu trabalhei poucas vezes, trabalhei como secretária, na área contábil, financeira, de atendimento, e nunca tinha trabalhado no departamento pessoal. E aí a Vera falou: ‘vai!'. Aí eu fui, e acredito que me sai bem, então foi assim, não tenho o que reclamar do serviço em si, é um serviço que eu gosto de fazer, e que a gente faz com felicidade, é prazeroso, inclusive atender às pessoas, inclusive aquelas que sempre fazem as mesmas perguntas, tem que ter paciência, tem que tratar muito bem as pessoas, então eu não vou dizer que tem um momento mais feliz. Assim, não vou conseguir lembrar de um momento triste, a não ser quando há perda de algum funcionário, que nós tivemos de algum professor querido, que os momentos mais tristes foram esses, da perda de alguém, mas não tem um momento mais feliz [50'].
Pergunta:
Bem, já está chegando no final do nosso bate-papo, né? Na mesma linha, a gente falou de momentos felizes, mas há alguma curiosidade, alguma história, alguns personagens que você falou, qual era sua relação com funcionários, alguns ficaram muito amigos, tanto quanto funcionária, mas você também falou enquanto aluna, criou-se ali uma amizade. Tem alguma curiosidade, uma história divertida, algum acontecimento desta trajetória sua na USCS que você acha legal destacar?
Resposta:
Olha, eu vou falar de amizade. Tem uma funcionária que nos tornamos muito amigas. Ela entrou um ano depois de mim, ela chama Raquel de Fátima Rodrigues, e tivemos uma trajetória bem bacana. Trabalhamos juntas na mesma sala, embora áreas diferentes, ela passou a ser secretária da Vera no meu lugar. Foi minha madrinha de casamento, participamos de festas, de show, de bastante coisa divertida. Acho que nesses 25 anos de amizade, nós nunca brigamos, nunca discutimos, embora tivéssemos religiões diferentes, credos diferentes, nós sempre nos respeitamos muito bem. Essa minha amiga se tornou uma escritora, gostava muito de cinema, e escrevia até para um jornalzinho da USCS, com dicas de cinema. Teve uma locadora, depois veio a escrever dois livros, escreveu esses livros e tivemos uma amizade muito boa. Até o último dia 26, que ela veio a falecer, vítima de um câncer, que ela lutou muito pela vida, a gente acompanhou tudo isso, essa luta dela desde o princípio, né? Que ela ficou sabendo da doença, mesmo assim ela conseguiu escrever os livros, conseguiu fazer aquilo que ela sempre quis, que era escrever esses livros, e infelizmente tivemos essa perda, como a irmã dela disse, uma perda irreparável, vai assim ficar na nossa memória por muito tempo. A Raquel, gostaria até que ela fosse uma das entrevistadas, seria muito bom para a USCS, mas ______ Deus levá-la. Então a minha homenagem seria para essa funcionária, uma amizade muito boa que nós tivemos. Embora assim, ela solteira, eu casada, foi trabalhar depois no financeiro, e eu no RH, mas tínhamos, por motivo de trabalho também, a gente sempre estava ali juntas, então me lembro que nesses 25 anos, ela passava todos os dias: ‘pessoal, 12 horas', na hora do almoço', e na hora da saída ela passava e falava: ‘Dezoito horas'. Todos os dias, e tinha uma amiga que não gostava muito disso, que ela ficava falando essas coisas, e eu falava: ‘deixa ela falar', porque eu achava muito engraçadinho, todo dia durante 25 anos, ela fazia as mesmas coisas. Então, a minha homenagem, se fosse o quadro de tirou o chapéu, para quem você tira o chapéu, eu tiro para a Raquel. Uma funcionária exemplar.
Pergunta:
Poxa, uma homenagem muito bonita mesmo, e o objetivo desse projeto é muito esse, de trazer mesmo para as pessoas o acesso a essa história da universidade, que às vezes, se você fica atento só ao que a gente conversou: ‘tal ano virou Centro Universitário'...
Resposta:
Em dados estatísticos, né? [risos]
Pergunta:
Não deixa aparecer o que realmente move uma instituição, que são as pessoas e sentimentos.
Resposta:
Então, com relação às pessoas da universidade não tenho assim, reclamação do pessoal. Eu acho que são assim, pessoas bacanas, que temos boa relação com todos, embora temos alguns atritos por aí no meio do caminho, poucos, mas não tenho...eu acho que o IMES tem uma equipe muito boa de funcionários antigos, de funcionários mais jovens, e eu vejo assim, que a universidade é uma empresa com uma engrenagem, cada um tem o seu papel, e essa engrenagem tem que girar de forma que vai se encaixar, independente da função de cada um, cada um tem a sua parte nessa construção, dessa imagem da universidade.
Pergunta:
Ione, queria primeiro agradecer a sua participação e como última questão, deixar em aberto se tem algum comentário, alguma coisa que a gente acabou aqui não tocando e que você gostaria de deixar registrado nesse projeto.
Resposta:
Ah, não sei, mas assim, vou usar uma frase da Raquel: ‘a vida continua, a USCS continua, sempre para frente'.
Lista de Siglas
GC: Gerador de Caracteres
SESI: Serviço Social da Indústria
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul
RH: Recursos Humanos
URV: Unidade Real de Valor
DP: Departamento Pessoal